segunda-feira, 14 de maio de 2018

Por vezes a força vai


Por vezes a força vai. Esvai-se, escorre como água pelo corpo. Desliza, trespassa e desespera como sangue a pingar no chão. E tentas agarra-la, num inútil esforço para coisa nenhuma, tal e qual correr num beco sem saída, ou então passar a borracha na tinta permanente. Não há volta a dar. Então olhas para trás, olhas para baixo e enlouqueces. E é aí que vês o sangue. Susténs a respiração por alguns segundos e então foges. Corres. Com intenção de ir para algum lugar mas indo para lado nenhum. Porque não há para onde ir quando a força vai. E as pernas não andam, mas corres na mesma. Corres por dentro, bloqueada por fora. Mas corres. Foges e vais. Mas estás presa com correntes que te agarram ao fundo do oceano. E é por isso que susténs a respiração. Mas a alma nada fora do corpo. E as pernas podem não mexer, mas nadas na mesma. Com intenção de ir para algum lugar mas indo para lado nenhum. Porque não há para onde ir quando a força vai. Nadas por dentro, bloqueada por fora. Mas nadas, procuras ar, procuras a força que sempre te fez lutar. Talvez por vezes seja preciso aprender a respirar no oceano, inspirar no fundo e expirar no meio das correntes. Aprender não a agarrar a água, mas a envolve-la como ela te envolve. Como se parte dela fosses. E vais, mas já não precisas de fugir, já não precisas de correr. Porque nem sempre é necessário correr para encontrar. Então ficas. A fuga visita-nos quando desconhecemos aquilo que chega ou aquilo que nos falta. Mas quando o incluímos naquilo que somos já não precisamos mais de fugir - porque somos um só.
Por vezes a força vai. Mas não há corpo fraco que prenda uma alma forte. Uma alma livre. Uma alma que sonha. A força vai e vem como as ondas. Mas só tu podes decidir se consegues viver no oceano.

1 comentário:

Anónimo disse...

A tua escrita é muito profunda e honesta.
Gostei muito!
Continua