segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O Segredo de Mel 3#

Eram 4h da manhã e Mel ainda não tinha adormecido, mexia-se de um lado para o outro mas nenhuma posição lhe parecia suficientemente confortável para dormir. Virava-se mais uma vez e puxava mais um pouco o cobertor para cima e suspirava. Outrora sentira-se protegida sempre que puxava o cobertor quase por cima da cabeça, era quase como se tivesse uma Super capa protetora que não deixava ''fantasmas'' ou males passar. Hoje nada a parecia proteger, sentia-se descoberta por mais que se cobrisse, sentia que todo o mundo a via mesmo não estando ninguém a observa-la.
Sabia que se relata-se todos aqueles pensamentos que a assaltavam a toda a hora muito provavelmente a chamariam de doida, ou se calhar nem dariam tempo para sequer a sua voz se fazer ouvir. Sabia que ninguém percebia a dor que lhe ia no peito, o sentimento que estava por detrás daquela fachada semi rígida, aquela aparência frágil... Oh, ninguém sabia e sentia-se ridícula, inútil, sem sentido. Mais que qualquer outra coisa sentia nojo de si, odiava-se, desprezava-se como nunca. Não via motivo algum para existir naquele momento por mais que se esforça-se, não conseguia encontrar nada positivo, nada que sobra-se de si que a fizesse sorrir. Nada. 
Virou-se de novo, olhou para o relógio e eram agora 6h30 da manhã. Mel já tinha acabado com 3 pacotes de lenços, sentia-se num poço sem fim e por isso aqueles litros de lágrimas pareciam demorar uma eternidade a enche-lo. Não conseguia parar, parecia ter ultrapassado a fase do silencio para começar a fase do choro compulsivo. Ah,  só queria chegar à fase em que a dor ia desaparecer, e já nem dizia física, mas psicologia. Queria sarar a alma, voltar a perceber o significado de ''coração'', saber sorrir pelo menos.
''O que é sorrir?'' todos os conceitos positivos pareciam ter sido exterminados do seu vocabulário, eram desconhecidos. Agora tudo o que era bom fazia-a ter medo ao mesmo tempo que o desejava. Era um sentimento estranho e contraditório. Tinha medo. Oh, tinha medo de tudo e só queria ficar dentro daquelas quatro paredes a definhar aos poucos, ou fugir, não sabia bem. Queria que tudo passa-se, ou voltar atrás no tempo, mas nada disso era possível.
Mel sentia-se revoltava com a vida e questionava-se constantemente ''Porquê eu?'', queria uma resposta, precisava de uma resposta, ''Porquê??'' . Foi então que decidiu fazer uma promessa a si mesma. Virou-se mais uma vez e enquanto se agarrava com força à almofada disse baixinho para si ''Nunca ninguém vai aproximar-se de mim daquela forma. Não, nunca mais! Ninguém vai saber desta história, prometo. Vai morrer comigo, vai ser o segredo da minha vida. O segredo mais bem guardado de sempre. Só meu, para sempre meu. O pior de mim para mim.''

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