Vejo-te sentada na berma da cama, de cabelo despenteado, de olhar focado no vazio e pegunto-me no que pensas. Pestanejas e inspiras fundo, por longos segundos, como se inspirar representasse o enredo de toda uma encenação, ou então, a malha fina que sustenta uma vida suspensa entre duas montanhas. Um inspirar que reflete o medo, da encenação e da malha. Da falha. Da queda.
Vejo-te sentada na berma da cama, de cabelo despenteado, de olhar focado no vazio e pegunto-me no que pensas. Colocas as mãos nos joelhos e levantas-te num impulso ameno. Olho para o teu rosto e não consigo tirar conclusões, como se um ferro de engomar tivesse passado por cima de toda e qualquer demostração de emoção. E pergunto eu: O que vai aí dentro? Silêncio. Acompanho essa tua ausência de resposta enquanto te vestes, tomas o pequeno almoço, lavas os dentes. Diriges-te em direção ao espelho, ajeitas a blusa e apertas o botão exatamente com o mesmo vislumbre sublime de sempre mas embaciado pela respiração cansada. Limpas o vidro embaciado e olhas-me nos olhos. E perguntas: O que vai aí dentro? Silêncio. Não lhe consegui responder.
Uma lágrima escorreu-lhe pelo rosto e observei-a a sair de casa. Sentei-me na berma da cama, de cabelo despenteado, de olhar focado no vazio e perguntei-me: O que vai aqui, dentro de mim?
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