sexta-feira, 16 de março de 2012

Fita de recordações


Olá recordações, olá eu...

Olá! Parece que voltei a espreitar lá para trás, exactamente para o inicio dos inícios.
Fui ao escritório, sentei-me no chão e abri a ultima gaveta. Mal lá entrei senti um arrepio daqueles que corta bem forte a respiração, daqueles que te percorrem o corpo tão rápido que assim também rápido te passa, mas te deixa realmente a pensar. Esqueci isso e abri a gaveta, confesso que com alguma dificuldade. Estava velha e é normal já estar perra de tão pouco usada que é. É mesmo assim quando as coisas são esquecidas. Para além de pó e mais abandonadas do que o que costume ficam enferrujadas. Digamos que já sei qual é a sensação e por isso decidi vir aqui, abrir esta gaveta, limpar o pó, abrir as memórias, voar no tempo e ''desenferrujar'' esta minha memória que parece se ter esquecido por uns tempos de algumas coisas. Valha a mim que acordei para reviver o que é bom.

Vi fotos de criança e fiquei com um sorriso nos lábios tal como se tivesse a viver naquele instante todas aquelas experiências. Não estava, mas queria. Não estava, mas precisava. Não estava e por isso deu saudades. Dá saudades lembrar da altura em que comer a papa era um martírio, um bicho de sete cabeças.Que demorar 2h a comer era normal e que um complemento dessas 2h era fazer grandes bochechas de comida num dos cantos da boca. Que guardar as ervilhas no bolso e da-las ao cão ou ao gato só para não as ter de comer era rotina para me safar do medonho ''sermão''. Essa altura em que o pior dos piores era ir para cama e que por isso chorava e chorava até me acalmarem, agarrar-me ao pequeno ursinho e adormecer.
Como o tempo passa não é? Ainda ontem andava a correr à chuva e a cair na lama, a esmurrar os joelhos, ouvir ''sermão'' por deixar cair comida na roupa ou por pôr a língua de fora quando falavam para mim. Eram tempos...

Tempos em que sofrer era sinónimo de arranhão e tristeza era sinónimo de não ter um doce.

E é aí que as coisas mudam não é? Cresceste não foi? foi sim!
Sofrer deixou de ser arranhão e tristeza deixou de ter inicio na falta de um doce. Sofrer passou a ser dor permanente que não passava com um penso no coração e num instantinho a tristeza deixou de ser curada com uma mousse de chocolate. Tristeza passou a ser provocado pela vida, talvez. Ou pelo mundo, pelas pessoas, pelos sentimentos ou pela falta deles.
Antes problemas resolviam-se com queixinhas aos pais e maneira mais simples de fugir deles era nos escondermos nas saias das mães. Agora? Mandam-nos aos leões, temos que ser gladiadores sem espadas e pode ser que por ventura nos safemos. Pode ser que sim...
Ai vida, olha como cresci, olga como acumulei recordações e olha como mudou tudo.
Fechei o álbum e guardei-o. Fechei a gaveta enquanto ouvia o estalar da madeira.
Levantei-me e pensei para mim já com um novo sorriso '' olá vida, olá eu...''.

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