sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Longe do mundo


O mundo absorveu-a sem que ela nota-se, muito discretamente absorveu-a e nem deixou recado. Quase como instantaneamente ela olhava já pelo vidro do autocarro sem olhar, via o mundo ser ver. O interior contradizia o que a rodeava e as palavras não expressavam o que lhe ia na alma. Tentou várias vezes traduzir-se através de todas as traduções possíveis, mas elas passavam-lhe simplesmente em forma de sensações ou em rodapé algures nos seus pensamentos longínquos. Manteve-se em silencio.
A falta de palavras fazem-lhe tanta confusão, porque ultimamente tem falado cada vez menos, pensado cada vez mais, tem tirado mais conclusões mas cada vez com menos certezas. E a escala prossegue, mais pensamento, menos palavras, até as palavras se esgotarem e se dar lugar ao silêncio profundo das sensações. Silêncio...
 Oh, ela foge do mundo a léguas, esconde-se em si, mas em contrapartida gosta de sentir tudo que é simples. Ah, mas do que ela foge realmente não é do mundo somente, mas da parte complexa dele, daquilo que a leva a todo aquele processo de silêncio, daquilo que não a deixa ver, sentir. Oh e ela necessita de ver, necessita de sentir... Olhar o mundo em seu redor conforta-a. E mesmo que isso não acontecesse, se o viu é porque tinha que ser. Ah, tinha que ser... E porquê?
Tem sido o tempo contra ela, a distorção do mundo contra ela, até a paisagem que devia ver pelo autocarro está contra ela. Não vê nada, não fala nada. Silêncio...
E tem sido assim desde á alguns tempos para cá, longe do mundo, perto da alma.

1 comentário:

Cláudia S. Reis disse...

Há fases assim. Mas são só fases. E como qualquer fase, passará :)