quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

A melhor maneira de nos encontrarmos é...



A minha cabeça era a minha maior inimiga, o meu maior desafio. Todas as noites e todas as manhãs tentava lidar comigo própria. Nunca consegui. Era um ciclo vicioso, fechava-me e ainda mais me queria fechar. Escondi-me e ainda mais me queria esconder. A minha mente estava a destruir-me. Eu estava a destruir-me. A depressão estava a fazer com que me perdesse, pouco a pouco, de uma forma psicologicamente dolorosa. Chegou a um ponto que não aguentei, e de alma rasgada e coração pousado em cima da mesinha de cabeceira desisti de buscar a forma de coloca-lo no sitio.
Encaminhei-me para a praia, sem ritmo nas pisadas e de corpo desleixado. Fazia-o todos os dias. Mas naquele finas de tarde era diferente, a determinação era diferente. O coração palpitava a um ritmo obscuro e pesaroso e a cura estava mesmo aos meus olhos. Só o tinha de descobrir.
Percorri o passadiço, descalcei as sabrinas e coloquei os pés na areia. Não sabia qual destino teria aquele final de tarde. Estava sozinha, doente, gelada por fora, destruída por dentro. Só queria voltar a sentir. Foi então que me concentrei. Olhei para o horizonte e comecei a correr de olhos fechados.
Só queria senti de novo. Sentir o cheiro da maresia, sentir o coração a palpitar. Sentir cada grão, cada pinga de orvalho. Sentir, sentir, sentir. Mil vezes sentir. Queria sentir o cabelo ao vento, os pés molhados, o sal nas bochechas. Queria sentir-me. Então corri. Corri sem parar, corri até que me perdi. Perdi-me algures em mim. Quem sabe se a melhor maneira de nos encontrarmos não é mesmo nos perdermos? Afinal de contas a cura estava mesmo ali. A cura estava em viver.

2 comentários:

samedi disse...

Como te compreendo.

Catarina Nóbrega disse...

Ah pois é! Percebo-te tão bem