terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O Segredo de Mel 4#


 
O sol já entrava pela janela, ouviam-se os pássaros a chilrear, ouviam-se gargalhadas na rua, havia tudo para ser um bom fim de semana menos para ela. Aquela manhã parecia-lhe um terror, o inicio de um novo dia assustava-a e o que a assustava mais ainda era o facto de saber que ia passar por inúmeras manhãs como aquela. Ia ter de encara-las com força ou coragem. Coragem era a palavra certa.
Daqui em diante, todos os dias de manhãzinha vou acrescentar novos ''acessórios ''.- pensou.  Para além da roupa e dos seus brincos preferidos, sapatilhas e afins colocaria também um fantástico sorriso falso no rosto, uma dose fingida de confiança e uma máscara que encobre sentimentos. Ah e para além de durante a semana levar consigo a mochila com os livros, estojo e carteira, passaria também a levar um segredo. Ah e esse pesava a valer e ia pesar assim até ao resto dos seus dias. Infelizmente não o podia deitar fora por mais que quisesse, não podia esquecer-se e deixa-lo em casa ou perde-lo pelo caminho. Isso parecia demasiado fácil e era completamente impossível pô-lo em prática, pelo menos para já. Era tudo demasiado recente para ela, não se conseguia lembrar ainda de todos os pormenores, mesmo apesar de ter passado a noite inteira a matutar no mesmo e por esse motivo ter quase feito uma piscina no quarto. Não valia a pena, ia levar algum tempo a consegui-lo. Questionava-se também se de facto se deveria esforçar para lembrar, se lhe faria bem insistir constantemente em pôr o dedo na ferida e destruir mais um pouco o coração. Ah, talvez não valesse a pena- concluiu.
É 13h e Mel ainda está na cama deitada e a olhar pela janela sem se mexer e foi quando sua mãe entrou com um tabuleiro cheio de comida e um sorriso do tamanho do mundo. Ela olhou repentinamente para a porta sobressaltada e observou a mãe quieta à entrada que parecia irradiar luz e doçura por todos os poros. Parecia um anjo caído do céu, algo que nunca tinha reparado anteriormente. Sabia que ela percebia o que passava, sabia que também ela estava triste com todo aquele ''filme'', via-lhe nos olhos tristeza por entre aquela postura de super heroína. Ela estava a fazer um enorme esforço para mante-la feliz, queria mima-la, queria acima de tudo recuperar a filha. Só não sabia que Melissa não acreditava que tal fosse sequer possível. Para Melissa mesmo que se esforçasse muito nada ia ser o mesmo, nada ia desaparecer. Não era uma tatuagem de brincar, daquelas que saiam nas batatas fritas e que saiam com água. Oh aquela era permanente e nada a ia tirar dali. Tinha de se conformar com a dor, com as imagens, com o medo, com a revolta, com a frieza. Tinha de ser corajosa e nisso tinha a certeza que sua mãe ia tentar ajudar.

2 comentários:

Ísis disse...

Deliciei-me!

Ísis disse...

Tu é que escreves muiiito, muiiito bem.

Obrigada pelo elogio.