Restava. Uma alma assombrada, um amor reduzido a pó. Restava eu, por entre aquelas paredes levantadas ao alto. Eu e as doze badaladas. Eu e a dor. Eu só. Oh, e cada badalada rasgava-me o peito juntamente com o ecoar das palavras que tinhas dito antes de saíres por aquela maldita porta.
Pedi.te. Pedi-te que ficasses. Pedi-te por entre lágrimas feridas para ser apenas tua mais uma noite. Queria-te para mim da maneira mais egoísta que pudesses imaginar. Ah meu anjo, mas o que eu queria mesmo era que tivesses ficado. Ficado naquela noite, para podermos ver o amanhecer emaranhados no lençol, para apreciar o teu sono antes de acordares, para te convencer a ficar.
Lembras-te de quando ficavas? Quando fazíamos o tempo parar? Quando o tempo deixava de ser tempo?
Naquela noite, depois de ires, restei eu. Eu a suplicar por cada linha do teu rosto, como se a minha sobrevivência dependesse de cada uma delas. Como se o processo de inspirar dependesse do olhar. Sufoquei por não te olhar. Sufoquei em frente àquela maldita porta e nem por um segundo a aflição do terror desvaneceu. O coração falhou e o corpo arrefeceu envolvido num abraço que não voltava mais. E ali restava eu, só. Eu e a dor. Eu e as doze badaladas. Restava eu, por entre aquelas paredes levantadas ao alto.Uma alma assombrada, um amor reduzido a pó. Restava.
8 comentários:
Muito forte este texto!
r: obrigada e um bom natal para ti :)
Sentirás isso até ao dia em que deixarás de restar. Até ao dia em que renascerás.
Querida este texto está tãoo forte. Que renasças mais feliz.
Espero que tenhas tido um natal muito docinho. Um beijinho grandeee!
Este texto está cinco estrelas, a serio , está mesmo muito bonito e forte. Consegui identificar-me bastante com o que escrevrste, talvez demasiado. Beijinhos.
Este texto está cinco estrelas, a serio , está mesmo muito bonito e forte. Consegui identificar-me bastante com o que escrevrste, talvez demasiado. Beijinhos.
Escreves sempre tão bem
r: Também foi bom querida mas passou tão mas tão rápido :(
Dolorosamente pungente.
Venha então a urgência purgadora do quotidiano.
Gostei muito... Daqui.
Beijo
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