domingo, 22 de maio de 2016

Coração Salgado #1




A angustia era salgada, e o sangue era mar que lhe percorria nas veias. As batidas aceleradas e destrutivas do seu coração assemelhavam-se à revolução das ondas. Tudo parecia perdido, fora de controlo. O embater nas rochas era demasiado doloroso e os danos que daí foram surgindo pareciam irreparáveis. Sentia-se perdida no oceano, perdida naquilo que era seu, naquilo que não sabia ser.
Quem era? Onde estava? Qual o motivo para tudo o que lhe amargurava a alma, lhe salgava o coração, lhe envenenava o corpo e os pensamentos? 
Tudo o que mais desejava era um desfecho para aquele barulho cruel que ensurdecia, que desassossegava. Queria sentir o cheiro da maresia, ser a maré cheia e vasa junto à costa. Queria a paz daquilo que é leve. Queria a serenidade do corpo que se estava a apagar, do tempo que se desvanecia, do controlo que se perdia.Tudo podia melhorar, mas nem tudo se podia apagar.
O passado estava lá e no fundo faria para sempre parte de si. Aquele mar seria sempre o seu lar. Restava torna-lo um lugar melhor para ficar. Um lugar bonito para amar.




1 comentário:

C. disse...

tao lindo *